Carta - Por Santa Catarina de Sena - Doutora da Igreja.
Nas Amarguras da Vida
Para Dona Stricca Salimbeni
1 - Saudação e Objetivo.
Em nome de Jesus crucificado e da amável Maria, caríssima filha no doce Cristo Jesus, eu Catarina, serva e escrava dos servos de Jesus Cristo, vos escrevo no seu precioso sangue, desejosa de vos ver fiel serva do nosso Criador, com autêntica e santa paciência.
2 - Necessidade da Fé Viva.
Lembrai-vos de que não há outra maneira de agradar a Deus. Somos peregrinos e viandantes: Sem que o tempo jamais pare, corremos em direção ao nosso fim, a morte. E precisamos da iluminação da fé para atingirmos o termo da caminhada, sem ter como habitáculo as trevas da incredulidade. Há de ser, porém, uma fé viva, ou seja, acompanhada de ações boas e santas. Dizem os santos que a fé sem as obras é uma fé morta (Tg 2,26). Nós cremos que Deus e Deus que Ele nos criou à Sua imagem e semelhança; que nos deu Seu Filho unigênito o Verbo, nascido de Maria e morto na cruz para nos livrar da morte e dar-nos a vida da graça. Perdemos tal graça na desobediência de Adão, mas a recuperamos pela obediência de Cristo, da mesma forma como todos os homens haviam herdado a morte com o pecado de Adão. Ao receber a iluminação da fé e ao experimentar o amor de Deus por nós na esperança da ressurreição no dia do juízo (final), o cristão se apaixona por essa iluminação e amor divinos na proporção do próprio conhecimento de Deus. Então compreende que Deus quer somente a nossa santificação. Tudo o que Deus nos dá ou permite nesta vida tem essa finalidade. Aflições e consolações, ofensas, zombarias, traições; perseguições do mundo, tentações do demônio, fome e sede, doença e pobreza, prosperidade e alegrias, tudo é permitido para o nosso bem. A riqueza Se nos dá para que ajudem¬os os pobres; os prazeres e posições sociais, para sermos humildes e agradecidos a Deus, para não cairmos no orgulho; sofrimento, venha de onde vier, e a pobreza, são para que atinjamos a perfeita paciência, conheçamos a instabilidade do mundo e, elevemos unicamente a Deus nosso amor e nossas aspirações, por meio das virtudes.
3 - Os Sofrimentos são Passageiros
Desse modo, recebemos o prêmio de nossas fadigas, pois toda dificuldade suportada por amor de Deus tem sua remuneração, o prêmio reservado para a vida eterna, na qual haverá vida sem morte, luz sem trevas, saciedade sem enjoo, fome sem dor: Santo Agostinho diz assim: “O fastio está longe da saciedade e o sofrimento longe, da fome” (cf. santo Agostinho, Meditações, c. 22). Na vida futura, toda boa ação será premiada e toda culpa será castigada.
4 - Deus sabe o que Faz.
Quem tem fé viva, portanto, pratica boas obras e com paciência suporta o sofrimento e a fadiga por amor de Deus e para a remissão dos seus pecados. Pessoa assim até valoriza a dor, pensando em quem a permite e para que a permite. Quem permite a dor? É Deus, bondade suprema e eterna. E a permite por um amor especial, nunca por ódio. Jesus o disse aos discípulos: “Eu vos envio para serdes perseguidos e martirizados no mundo. Não o faço por ódio, mas por um amor especial. No mesmo amor com que o Pai me amou, Eu vos amo. Embora o Pai me amasse de modo particular, mandou-me para morrer a cruel morte na cruz”. Para que Deus nos envia, então, a dor? Por amor e para a nossa santificação, como ficou dito; para que na dor sejamos santificados. E quem somos nós, os destinatários de tais sofrimentos? Somos um nada! Por nossas culpas, apenas merecedores de mil infernos, se fosse possível. Porque ofendemos a Deus, que é o bem infinito, o castigo teria de ser infinito.
Mas na sua misericórdia, Deus nos pune aqui no tempo finito, com um sofrimento finito. De fato; as dores desta vida acontecem na medida do tempo, não mais que isso. Por causa da brevidade do tempo, até a maior dor torna-se pequena. Dizem os santos que o nosso tempo consiste numa ponta de agulha. A vida humana é um nada:, pouca coisa. Portanto, o maior sofrimento torna-se pequeno. Passada a dor, já não sofremos mais. Quanto à sofrimentos futuros, não temos certeza se virão, uma vez que nunca sabemos quanto vamos viver. O que existe é somente presente. Nada mais.
5 - Exortação Final e Conclusão
Coragem, querida filha! Acorda do sono. Não durmamos mais. Sigamos com fé viva e grande paciência os passos do crucificado. Banhai-vos no sangue de Cristo crucificado. Nada mais acrescento. Permanecei no santo e doce amor de Deus. Jesus doce, Jesus amor!
(Enviado por Padre José Luís)
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