Um grande santo da Igreja, São João Bosco, dizia: “Fomos colocados no mundo para os outros”. Este grande santo expressa nesta frase uma atitude que guiou toda a sua frutífera vida missionária. Ele foi muito comprometido com a Juventude e é o fundador da congregação dos Salesianos, uma congregação dedicada à educação da juventude. Sendo cristãos conscientes de que o sentido da nossa vida está em “viver para os outros”, realizamos realmente a nossa “identidade filial” recebida no Batismo.
No Batismo, somos configurados a Cristo, unimo-nos a Ele e à sua Igreja, tornamo-nos novas criaturas. Esta configuração, ou seja, tornar-se uma imagem (outro cristo), exige de nós uma atitude como a dele. Toda a vida de Jesus foi uma doação em favor dos outros. O cristão é chamado a ser imagem de Jesus na sua Igreja, por ser membro de seu “Corpo” - a Igreja, da qual Cristo é a Cabeça. Para que todo o corpo funcione é preciso que cada membro cumpra bem a sua missão.
A Igreja leva os homens à comunhão com Deus. Diz-nos o documento do Concílio Vaticano II (1962-1965) Lumen Gentium (Luz dos Povos) que a Igreja foi “prefigurada desde a origem do mundo e preparada admiravelmente na história do povo de Israel e na antiga aliança, e instituída 'nos últimos tempos', foi manifestada pela efusão do Espírito, e será consumada em glória no fim dos séculos” (LG nº 2). Todos somos chamados a sermos cada vez mais Igreja, pois assim estamos no caminho de Deus.
Desde o início, mesmo sabendo que somos frágeis e limitados, Jesus impôs a condição do amor para quem quer fazer parte desta Igreja. A título de exemplo, olhemos duas passagens bíblicas referentes a Pedro: quando Pedro faz sua confissão de fé em Jesus - “Tu és o Cristo, o filho do Deus vivo” (Mt 16,17) - Jesus logo lhe confia o pastoreio da sua Igreja: “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja” (Mt 16,18), mas, em seguida, quando Jesus diz que terá que sofrer e morrer na cruz, Pedro começa a repreendê-lo, pois não esperava que o messias - o salvador - tivesse que sofrer e morrer (cf. Mt 16,21ss). Outro episódio que também mostra a exigência do amor e a limitação de Pedro está no evangelho de João: Jesus pergunta a Pedro três vezes se ele o ama para depois poder lhe confiar o governo do seu rebanho (cf. Jo 21,15ss) - a mesma pergunta feita por três vezes ressalta o compromisso exigido a Pedro. Assim como Pedro, somos limitados, mas também podemos responder a Jesus como ele respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo” (Jo 21,15).
A própria definição do termo Igreja (em grego Ekkesia= assembléia religiosa) ilumina a idéia do compromisso de amor na comunidade para quem pertence a ela como povo escolhido. No Antigo Testamento o termo designava o povo de Israel escolhido por Deus (cf. Dt 4,10), chamado a ser uma “assembléia santa” (Nm 29,1). No Novo Testamento a Igreja de Jesus Cristo é o novo povo escolhido (At 7,38). Quem faz parte desta assembléia tem que se reunir com ela, participar das suas celebrações, orações e trabalhos pastorais: o aspecto interior - o fato de ser incorporado nela pelo Batismo e ser membro dela, estar unido a ela pela fé - tem que se unir ao exterior - a participação na sua missão. Quem pertence a esta Igreja e se sente amado e agraciado por Deus dentro dela, sente também um forte desejo de experimentar cada vez mais este amor e de comunicá-lo aos outros.
Nas primeiras comunidades, os cristãos tinham que reunir em locais isolados, por causa de perseguições (até mesmo em cavernas), mas viviam alegres e unidos: muitos deles deram a sua vida em martírio. Hoje, graças a Deus, não faltam Igrejas para nos reunirmos nem temos perseguições externas como as de antes, apesar de termos outros desafios. Dificuldades sempre teremos, mas não podemos nos desanimar com elas. Com amor vencemos todas as dificuldades: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl 4,13).
Que possamos sentir e viver esta alegria de pertencermos à “família de Deus”, à Igreja, como eleitos e amados dele! Que também possamos responder a este amor amando a nossa comunidade! E que o exemplo de Santa Terezinha e de São João Bosco, que viveram suas vidas “para os outros”, seja luz em nossa caminhada, para cumprirmos bem a nossa missão de cristãos.
José Antônio Ramos, Seminarista do terceiro ano de teologia do
Seminário Maior “Dom José André Coimbra” de Patos de Minas
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