segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Falando Sobre Vocação Sacerdotal

1 - O que significa falar sobre vocação sacerdotal no mundo contemporâneo?

Significa apresentar aos jovens de hoje, uma pessoa, que é Jesus, o Mestre, que continua chamando-os ao ministério ordenado. Ter a coragem de falar dessa possibilidade vocacional, que não é retrógada, mas atualíssima. Lembrando que os jovens da pós-modernidade também tem sede e fome de Deus e de radicalidade no seguimento do Senhor. Apresentar uma mensagem desafiadora e atraente, cativante, um ministério exigente, mas alegre e bonito, cheio de alegrias e realizações humanas e espirituais. Falar-lhes ao coração de um chamado a transcender as meras realidades humanas que o mundo apresenta. Os nossos jovens gostam e esperam que sejamos testemunha dessa beleza que é a vocação, como nos afirma Bento XVI: “O testemunho suscita vocações”.

2 - A configuração da sociedade pós-moderna apresenta desafios para se abordar esse tema, em especial com os jovens? Se sim, quais seriam os principais?

Vivemos em uma cultura altamente relativista e subjetiva, na qual a tendência da juventude é enveredar-se pela mentalidade liquida e superficial. Portanto, nossos jovens estão cada vez mais com dificuldade de assumir compromissos duradouros, que exigem uma decisão radical e corajosa. Logo, falar de vocação nessas circunstâncias sociocultural e religiosa é desafiante. Podemos destacar entre os principais desafios:

a) Encontrar jovens disponíveis a ouvir, ou melhor, a escutar, muito embora quando alguém os questiona com seriedade e fundamentos sólidos, de maneira individualizada, eles são capazes de escutar.

b) O ambiente familiar e social dos jovens não favorecem a uma busca do sagrado, pois não os educam para a escuta. Além da diminuição do número de natalidade. Esse dado influencia muito na opção de um filho em ser padre, pois dado que favorece a cultura do egoísmo.

c) Os comunicadores da mensagem vocacional precisam ter uma linguagem adaptada à realidade dos jovens, levando em conta as várias juventudes que temos hoje. Deve-se buscar uma pedagogia onde a mensagem seja atraente, dinâmica e criativa, sempre jovial, mas sem deixar de ser a mensagem de Jesus Cristo, com toda a verdade que ela comporta.

d) A cultura capitalista, consumista, do descartável e do provisório, a difusão da mentalidade secularizada vai contra os valores do Reino e da vida, e consequentemente contra os conselhos evangélicos que o ministro ordenado é chamado, na alegria e liberdade viver. O senso de doação e de entrega por causas nobre perde força.

e) A estima pública que tem o sacerdote na sociedade e na cultura atual está diminuindo, ou até mesmo marginalizado, sendo este um grande desafio para a promoção vocacional, ou seja, o desprestígio que, por diversas razões, enfrentam os sacerdotes e a vida consagrada em geral.

3 - Um recente documento elaborado pela Congregação para a Educação Católica - Orientações para a promoção das vocações sacerdotais - indica que a pastoral vocacional, apesar de estruturada e criativa, tem resultados que não correspondem ao empenho despendido. O que é preciso fazer para se ter uma pastoral vocacional forte e com resultados concretos?

Esta é uma pergunta muito complexa, pois engloba muitos aspectos: desde uma promoção vocacional eficaz, dinâmica, criativa, chamativa, atrativa, propositiva e adaptada à diversidade das juventudes que temos hoje a uma consciência vocacional bem mais ampla do que a que ainda é realizada em grande parte no Brasil. Embora, ainda não é garantia de resposta totalizante. É preciso ver as questões que envolvem os jovens pós-modernos e não esquecer que o chamado é dom de Deus, é vocação, e não mera proposta dos agentes. Tendo isso em vista, pode-se garantir que a eficácia da pastoral vocacional está em grande parte fundamentada na oração da comunidade eclesial, que pede ao Dono da Messe que envie operário para a sua Messe.

Desde o segundo Congresso Vocacional da Igreja no Brasil, realizado em setembro de 2005, temos falado de criar uma cultura vocacional na Igreja. Acredito que enquanto isso não estiver concretizado a resposta vocacional será ainda pequena. Outra linha de missão da Pastoral Vocacional, e, talvez uma das primeiras, é a família, conscientizar as famílias, que elas são as primeiras responsáveis pela vocação dos filhos. No número 3 do referido documento, fala da importância da comunidade em rezar pelas vocações sacerdotais. Ainda apresenta como meio para o crescimento das vocações uma evangelização paroquial que envolva a juventude de forma mais totalizante. Nesse aspecto a Igreja no Brasil está dando passos, mas ainda falta muito. Outro fator de grande importância e eu considero como o principal é o testemunho alegre e jovial dos padres. O testemunho dos próprios padres é o que mais encanta e atrai os jovens. O papa João Paulo II, em um de suas últimas mensagens para o dia mundial de oração pelas vocações coloca três características como impactantes na promoção vocacional: a alegria dos consagrados ao ministério ordenado, a oração pelas vocações e o testemunho de comunhão.

4 - O documento também aponta: nos países de antiga tradição cristã a preocupante diminuição numérica dos sacerdotes, o crescente aumento da sua média de idade e a necessidade da nova evangelização esboçam a apresentação de uma nova situação eclesial. Quando falamos em Brasil e especificamente sobre a vocação sacerdotal, qual é o quadro que se percebe em nosso país?

Pelas estatísticas do IBGE, a sociedade brasileira não demorará muitos anos a atingir a realidade que a Europa já enfrenta. Esta é uma situação que atinge não somente a população leiga, mas também aos clérigos. Portanto, a Igreja que tem uma preocupação maternal, busca ver todas as realidades de seus filhos. No Brasil está sendo causa de grande preocupação por parte da Igreja, e já está expressa essa inquietação nos documentos, vejamos do Documento de Aparecida, as Diretrizes para a Evangelização da Igreja no Brasil, os documentos sobre a formação do clero, os documentos finais dos Congressos Vocacionais, o documento final do Congresso Vocacional Latino-americano e Caribenho, todos apontam para a necessidade de uma nova evangelização. Realmente é uma nova situação eclesial que vem surgindo. E os agentes da Pastoral Vocacional, bem com todos os formadores precisam estar atentos para não entrar em colapso eclesial, e consequentemente vocacional, ou vice-versa. Mais que nunca é urgente investir em um novo jeito de evangelizar cada pessoa e a cultura atual, ou as culturas. Do contrário, teremos muito em breve um clero minguado e velho para uma população velha. Embora, no Brasil o clero seja relativamente jovem, não podemos acomodar fiando nessa realidade.

5 - Uma pastoral mais integrada, ou seja, que não entenda a dimensão vocacional como um simples acréscimo de programações e de propostas, mas que torna essa dimensão uma natural expressão da vida da comunidade como um todo, pode ser um solo mais fértil para o florescimento de vocações maduras e conscientes, tanto laicais quanto religiosas?

A pouca eficácia da Pastoral Vocacional não está em falta de atividades, embora, em algumas realidades eclesiais ao longo de nosso Brasil, falte empenho e programação, valorização deste serviço na Igreja, mas comumente não é esta a razão, pois nossas dioceses e paróquias, quase sempre apresentam multiplicidades de atividades vocacionais, até mesmo certo ativismo nessa área. Fui por seis anos coordenador da PV, SAV no regional Centro Oeste e na semana passado estive orientando um retiro de três dias para os agentes vocacionais do Regional Oeste II, e percebo que em grande parte os regionais tem trabalhos muito bonitos e bem elaborados. O que está faltando para que a promoção vocacional sacerdotal seja mais frutífera não são atividades, mas às vezes o jeito de fazer acontecer a promoção vocacional, diz-se da pedagogia e didática da pastoral vocacional. É necessária uma Pastoral mais integrada na realidade da comunidade, bem como na realidade das novas características de jovens, inseridos em um mundo de tecnologias e das novas mídias. Os agentes de pastoral vocacional precisam estar atentos a esta realidade.

No segundo Congresso Vocacional do Brasil, muito se falou de interdisciplinariedade, transversalidade, pastoral de conjunto, de criar uma cultura vocacional, de vocacionalizar as pastorais. Principalmente esta dimensão. Faz-se muito necessário que em todas as pastorais, movimentos, associações eclesiais e em todas as comunidade e realidades eclesiais criem essa cultura vocacional. Acredito que a partir desta consciência a Pastoral Vocacional será mais eficaz. Obterá uma mais diligente pela sua esmerada missão. Essa realidade está na raiz mesma do termo IGREJA, assembleia dos chamados. Todos os batizados precisam tomar consciência de sua vocação na Igreja, quando isso acontecer, teremos vocações abundantes a todos os ministérios.

Pe. Paulo Batista Borges

Presidente da OSIB – Nacional

Professor de Teologia Sistemática

Responsável pela dimensão Litúrgica e Espiritual

Seminário Maior Arquidiocesano de Brasília Nossa Senhora de Fátima

contato@seminariomaiordebrasilia.com.br

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